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Encontro em 02/03/2022

MAPULU KAMAYURÁ

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HISTÓRIA DA YAMURICUMà

 

1/03/2022

Terça-feira de Carnaval 

Casa do ISA em Canarana.

 

 

Narradora: Mapulú Kamayurá

Tradução: Kamihukalu Kamayurá

 PARTE 1.

A origem das Yamuricumã,

 

No início era MAVUTSININ que pensou... pensou em criar flautas para animar a aldeia.

 

M. criou flauta para os homens tocarem.

 

Mas as mulheres, que eram muito inteligentes, já sabiam tocar e foram direto pegar as flautas. Três mulheres gêmeas, a mais velha era Cunhamarú, Mulher-Rainha. Ela tocava flauta... ela que começou.

 

Os homens não sabiam.

 

Mavutsinin era o avô dos Gêmeos Sol e Lua.

 

Yaú Lua

Kwat Sol

 

O sol e a Lua não sabiam também. Só a mulherada sabia tocar, primeiro.  

 

Sol e Lua só ficaram ouvindo, não falaram nada, não gostaram da ideia que as mulheres iam tocar flauta. Porque não combina.

 

Sol também sofria muito, porque as mulheres comandavam a aldeia, quando elas tocavam, os homens não podiam sair de casa, não podiam fazer pipi, nem caçar, nem pescar... porque eles tinham medo delas. Até M. ficou com medo...

 

As mulheres sacaneavam com os homens e ficavam tocando e os homens ficaram dentro da casa para não ver a mulherada. Elas ficaram no centro tocando Yacuí (música e instrumento), aí um rapaz chegou da pescaria e viu as mulheres dançando e tocando flauta no centro da aldeia.

 

Aí as mulheres pegaram um rapaz (Arautará, Pescador). Foi assim...

 

A velha ficava vigiando os homens e as meninas dançando e tocando flauta.

 De repente Arautará apareceu. Aí ela avisou: Homem está chegando. Ele viu nós...viu mulherada tocando flauta.

Aí elas FALARAM PARA AS OUTRAS MULHERES PEGAREM UTARÁ.

 

Aí elas foram buscar ele na casa dele e levaram no centro da aldeia, flauta que foi tocando na frente, buscando ele. Aí levaram para o centro da aldeia... primeiro as mais velhas que começaram a namorar com ele. Arautará começou a chorar.

 

Aí sol e lua não gostaram do que a mulhertada estava fazendo com ele. Sol e Lua falaram: “Está errado, as mulheres namorando assim com os homens. Não combina.”

 

Sol e a Lua não gostaram nada do que elas estavam fazendo.

 

Mavutsinin não sabia de nada do que estava acontecendo.

 

Sol e a Lua pensaram, o que nós vamos fazer com a mulherada?  Eles foram para o mato, nem avisaram avô M... e cortaram madeira para fazer remo (um tipo de um remo.. Uriuri), aí testaram esse remo Uriuri lá no mato para ver se fazia barulho para assustar as mulheres para elas largarem da Flauta.

 

Fizeram duas Uriuri, uma para o Sol e outra para a Lua.

 

A flauta que deixa elas doidas, a flauta não combina com as mulheres. Urutaí, a flauta pequena, era só para as meninas novas e Yacuí, a flauta grande, para as mulheres adultas.

 

O sol e a Lua Voltaram do mato para a aldeia de tarde, 5h. As mulheres estavam dançando e tocando flauta no centro da aldeia, aí eles começaram a girar os remos Uriuri para assustar a Mulherada.  as mulheres ouviram um barulho e viram que o Sol e a Lua estavam girando Uriuri...

 

Aí as mulheres pensaram que alguma coisa ruim estava vindo: “Olha, coisa ruim esta  chegando pra nós, fazendo barulho dentro da aldeia”. Elas não sabiam o que era. Aí elas começaram a correr pra dentro das casas para se esconder. As mulheres, então começaram a correr, desamarraram as flautas e jogaram Jacuí no chão, no centro da aldeia.

 

Sol começou a rir delas quando viu elas entrando nas casas.... riu e falou: “Nós conseguimos assustar elas, elas largaram Jacuí...”

 

O Sol e a Lua foram correndo até o centro da aldeia para pegar Jacuí que as mulheres deixaram no chão. Eles começaram a sacanear, brincar com elas, falando mal e rindo... delas.

 

Eles, O Sol e a Lua, chamaram os homens que estavam dentro das casas (que eram muitas casas) e disseram: vem aqui, a gente conseguiu...nós pegamos Jacuí delas, vamos tocar... Não tem mais ninguém aqui, as mulheres entraram todas nas casas... venham.

 

Os homens que estavam com medo das mulheres, saíram das casas para tocar Jacuí no centro da aldeia.

 

Esse daí foi o início.

Foi aí que os homens começaram a tocar Flauta Jacuí...

 

Mavutsinin não sabia de nada, não faz nem ideia do que aconteceu.

 

As mulheres tinham entrado nas casas... e não podiam mais sair. Nem para fazer Pipi. Coitadas...

 

O Sol se vingou, descontou na mulherada o que elas tinham feito com os homens.

 

Os homens começaram a tocar as flautas -  Jacuí e Kurutaí – eles ficaram alegres por terem pegado as flautas das mulheres.  (Mapulú ri).

 

A mulherada só na casa escutando as flautas que eram delas antes. Elas não podiam mais sair, nem para fazer xixi, com medo dos homens pegarem as meninas pra namorar.

 

As mulheres pensaram: vamos entregar para os homens. Eles venceram. 

Então... Deixa eles cuidarem das flautas.

 

 

Quando os homens começaram a tocar a flauta Jacuí, Mavutsinin saiu, foi no centro da aldeia, ele procurou saber com os netos, O sol e a Lua: “O que vocês estão fazendo com a mulherada?”

 

Kwat, o Sol respondeu avô: “Porque a mulher tocar flauta, não combina”.

 

M. respondeu: “Tá bom”.  Vocês já conseguiram tomar as flautas da Mulherada”.

 

Desde aquele dia que os homens tomaram Jacuí.... até hoje, nós mulheres respeitamos os homens, porque Jacuí mata as mulheres quando vê. Jacuí Leva a mulher pro centro para namorar sem parar, um homem depois do outro, até matar. Aí a gente ficou com medo... Não pode olhar. A gente tem que respeitar...

 

Quando os homens tocam Jacuí lá no centro da aldeia, a mulherada não pode olhar, se alguma olhar para as flautas, Jacuí, os homens vêm buscar a mulher para levar no centro da aldeia, e todos namoram com ela... para evitar isso, elas não saem mais.

 

Aí outro dia, M. saiu no centro da aldeia, para juntar a mulherada. Aí primeiro M falou: Desculpa, eu não sabia que meus netos estavam fazendo isso com vcs, sacaneando vocês, assim que M falou para a mulherada. As mulheres também são netas de M...

 

M. então, foi procurando as músicas para as mulheres, procurando, procurando...

Então M.  chamou as mulheres no centro da aldeia para pensar nas músicas que elas vão cantar.... Yamuricumã. Vocês vão cantar Yamuricumã.

 

Primeiro ele ensinou a Kanuã, uma música especial de respeito. 

 

Mavutsinin, então, ensinou muitas músicas para a Mulherada. O nome da festa: Yamuricumã.

 

 

PARTE 2.

 

M sentou o centro da aldeia e chamou as mulheres, juntou elas no centro da aldeia e pensou: “Yamuricumã vai ser o canto de vocês”.

Yamuricumã ! Ele criou o nome da festa para as mulheres. Yamuricumã.

 

MAVUTSISN CONTOU ESSE CANTO DAS YAMURICUMÃ PARA AS MULHERES.

Ele falou para as mulheres se prepararem, se pintarem para cantar.

 

Na parte da tarde, M sentou no centro da aldeia e as mulheres vieram todas pintadas. M ensinou as mulheres como elas vão dançar... Ele conseguiu cocar para elas ficarem bonitas, cocares para enfeitar as moças bonitas que dançam na frente.

 

Elas descontaram também dos homens, ficando bonitas assim. Ainda mais bonitas, assim. Aí os homens ficaram doidos de desejo, mas só ficaram olhando para elas, bonitas assim... bonitas elas ficaram de cocar. Sol e Lua ficaram doidos por elas.

 

Aí elas começaram a dançar, da tarde até a noite. Até 9 horas da noite. Aí pararam. A noite pararam.

 

No outro dia M chamou as netas no centro da aldeia, ele falou pra elas que essa festa era das mulheres, que vai ser pra elas, até agora Yamuricumã é a festa das mulheres.

 

Aí M pediu pra elas limparem a roça... e elas começaram a dançar no centro da aldeia – Yamuricumã – aí elas foram dançando e cantando até chegar na roça, para limpar a roça. Aí elas foram limpar a roça...

 

M e então escolheu o dono da roça, para ficar dono da festa da mulherada. Yamuricumã.

 

Aí o dono da roça começou a preparar os alimentos para as mulheres que estão limpando roça. Para pagar com a comida o trabalho delas.... Aí nisso aí ele já colocou a regra para as mulheres: vai ser sempre assim, de geração em geração.

 

Aí as Yamuricumã voltaram da roça, cantando e dançando, até o centro da aldeia.

 

Aí essa pessoa (O dono da roça) TROUXE COMIDA pra elas: MINGAU, BEIJÚ, PIMENTA, PEIXE... nessa tarde o dono da casa virou dono da festa, porque M escolher ele.

 

Aí ele escolheu 8 cantoras para comandar a festa e deu para cada uma delas, uma cabaça de mingau, mingau de beijú.

 

Aí M disse pra elas: “esse homem vai cuidar de vocês, vai ficar dono da festa Yamuricumã. O dono da festa vai alimentar a mulherada, dar comida para a festa acontecer... peixe, mingau... tudo pra Yamuricumã. Quando vai ter a festa ele já preparou comida pra elas dançarem. Ele que cuida, é o dono da festa.

 

M que escolheu o dono pra cuidar da festa. Até hoje a festa das Yamuricumã tem dono.

 

Meu pai era dono da festa, aí passou para Maiarú. Hoje Maiarú que é o dono da Festa.

 

M. começou a preparar... consegui dono da festa e tudo.

 

Depois M sentou e pensou de novo, para procurar outro morerequat / Noitú.

 

M sentou e juntou a mulherada, junto com os homens. Chamou todo mundo.

Ele pensou, vamos procurar Noitú – Criar cacique, Noitú, para comandar a aldeia. Noitú, pra cuidar da aldeia.

 

Escolheram um jovem de 15 anos,  Mawayaká, (Maaoiacá). Chamaram o pai e a mãe de Mawayaká, para eles autorizarem o filho Mawayacá para ficar Noitú.

 

O pai e a mãe aceitaram e depois voltaram pra casa.

 

À tarde, todo mundo se reuniu no centro da aldeia, M chamou duas pessoas (dois homens) e falou: “Amanhã nós vamos fazer a festa, pra fazer Noitú (cacique), M pediu para o pessoal se preparar para amanhã. Para o pessoal se arrumar, preparar os enfeites: O arawuri, penas de arara no braço; Inimoputã, o cinto de Móut (caramujo) para amarrar na cintura; o  Yarruai, o cocar para a cabeça e o Iukwap (linha dos joelhos) e o Iputafá, as linhas dos calcanhares...

 

No outro dia, todo mundo veio no centro com seus enfeites. M juntou os netos para ensinar o canto de furar a orelha – Nami Amaracá (canto da orelha) - para fazer cacique, Noitú. M escolheu os dois cantores e ensinou a música.

 

Aí começaram a cantar e a dançar, junto com as mulheres.

 

Esses cantores começaram a dançar primeiro, junto com a mulherada.

 

No outro dia, os dois cantores foram buscar Noitú Mawayaká na casa dele para levar no centro da aldeia. Começaram a dançar com ele e escolheram mais três rapazes para ficar junto com Mawayaká, (assessores, primos). Aí começaram todos eles a dançar. A mãe dançou junto para cuidar deles.

 

Dancaram, dançaram, dançaram... mais de um mês eles dançaram...

 

O pai fica dando mingau pra eles, alimentando os filhos pra festa, dando alimento para todos, pra festa acontecer.  Mais de um mês... Completou um mês, aí pensaram pra furar a orelha. Aí juntaram todo mundo no centro da aldeia e disseram: Vamos furar amanhã.

 

Aí M. não gostou muito de furar a orelha entre aldeia, só com um povo.

 

Ele quis juntar nove etnias para olhar a festa do Noitú, para todo mundo conhecer Noitú. Para ele ficar respeitado. Como ele criou cacique, todo mundo precisa conhecer ele.

 

Os cantores pensaram, então: vamos chamar as outras etnias para participar da festa da orelha. Aí o pai do rapaz aceitou juntar as outras etnias para participar da festa do filho. Os cantores que decidiram isso.

 

Aí Pareat – 3 pessoas, convidadores – foram para as outras aldeias chamar os convidados das 9 etnias. Foram Chamar outras etnias para virem participar da festa.

 

No outro dia, os convidados chegaram para participar da festa da orelha, chegaram na parte da tarde, 6 horas...  7 horas eles começam a dançar e cantar.

 

Os pais que enfeitaram ele, colocaram os cintos (kwarrap), muitos cintos, para as outras etnias tirarem... É assim: ele fica no centro da aldeia esperando... outras etnias vão dançando com ele, até terminar de dançar e cantar, pra tirar o cinto, tiram todos os cintos, cada etnia ganha um cinto. Vem uma depois da outra, canta, dança e tira (ganha) o cinto. Assim que terminam eles devolvem o Noitú para o cantor cuidar de novo... Aí foi assim, tirando, eles colocam outro, tirando, coloca outro.... até terminar, todas as etnias. Aí terminou o canto dessa noite, até meia noite, terminou.

 

Quando foi  meia noite, terminou.

 

Quando deu duas horas da manhã os donos da aldeia, os moradores, donos da festa, começam a dançar com o Noitú. Aí ele coloca mais cintos para os cantores tirarem. Vai oferecer para eles, para os cantores. São os últimos cantos.

 

Às cinco horas da manhã, pararam. Ai prepararam para pintar.

 

Quando amanheceu (5h30) começaram a pintar. Um pinta com urucum... outro pinta com Jenipapo, outro pinta com copaíba... aí terminaram de pintar (6h30).

 

As 7h os Pareats foram buscar os convidados no acampamento, para vir na aldeia fazer o Huka huka...

 

Aí começou a luta, 8h... aí os convidados lutam com os donos da festa, cada etnia luta contra eles, um depois do outro, até terminar.  Até 10h termina luta, huka huka. ‘

 

Aí pronto. Terminou lá.

 

Aí o pessoal volta para as suas aldeias, cada povo volta pra sua aldeia.

 

Terminou festa, Noitú voltou pra sua casa, entrou em casa.

 

Aí à tarde chamaram ele de novo, pra dançar a noite inteira até amanhecer.

 

Aí a mãe vem com água gelada na panelinha para molhar a orelha a noite inteira, enquanto dança, até de manhã. 6h, 7h termina. Quando amanhece.

 

Assim que termina a música, levaram Noitú no centro da aldeia, prepararam um banco do Uruwutsin (urubú de duas cabeças) pra ele sentar. Um dos companheiros dele senta no banco de onça (Yakwat). O outro companheiro dele senta no banco de gavião (Wyrapy). Outro companheiro senta no banco de águia, Kuiaú (outro tipo de gavião branco, águia). Cada um fica num banco, sentado.

 

E a mãe traz carvão numa panela de barro. Cada mãe traz carvão para o seu filho numa panela de barro, de cerâmica. Os cantores pintam os 4.

 

Aí colocam pintura de urubu, gavião, onça... cada um com a sua pintura. Igual do banco.

 

Aí depois levantaram eles para sentar no colo dos outros homens para segurar eles... para furar as orelhas deles. Já tem 4 pessoas preparadas que vão furar, com osso de onça (bem fininho). Aí a mãe traz flecha para colocar na boca, para ele morder e não gritar, cada mãe no seu filho.

 

Aí eles começam a segurar eles... Os cantores começam a cantar pra eles, atrás deles, canto do gavião. As pessoas que vão furar a orelha , tudo igual, vêm correndo na direção deles, para furar a orelha. Não pode gritar. Colocaram a flecha pra não gritar.

 

Cada um furou a orelha dos 4 rapazes.  Terminou.

 

Aí os pais deram as panelas de barro para as pessoas que furaram a orelha.

 

Aí os “furadores de orelha” colocaram eles nas costas, para não andarem.

Levam eles até a casa do Noitú, vão ficar todo mundo junto, lá.

 

Ficaram deitados o dia todo. Nem conversam, nem tomam água, nem comem, nem nada. Estão preparando eles para serem Noitú.

 

Só no outro dia de manhã (7h) que os furadores de orelha foram levantar eles. Levaram eles para banhar na lagoa, voltaram da beira, voltaram pra casa, tudo junto.

 

Colocaram Buriti, para fechar quarto, para eles não saírem, para fazer quarto.

 

Os furadores de orelha pegaram arco e flecha, tudo amarrado, para cada um dos rapazes. E trouxeram para eles...

 

É para vcs ficarem flechando qq mulher que sair, qq mulher q vcs virem, vcs podem flechar elas. Eles colocam tucunzinho (Yauara’á) na ponta da flecha. Não mata, mas machuca quando bate no corpo, na cabeça.... em qq lugar.

 

(Quanta maldade.... mas, diz que era normal...).

 

Então, depois, eles começaram a fazer maldade com as mulheres. Eles ficaram dois meses fazendo maldade, com as flechinhas e nesse tempo eles não comeram peixe. Tomaram água e comeram carne de caça, Peixe não.

 

Quando deu três meses, os furadores de orelha decidiram ir na casa dos pais... aí falaram para os pais que à tarde eles vão juntar a aldeia para decidir para eles irem pescar.

 

Pai falou... amanhã minha mulher vai na roça, pegar mandioca pra eles comerem na pescaria. Ela foi três dias na roça... Assim que ela terminou de preparar a comida para os pescadores, eles foram na pescaria.

 

Aí eles foram. Todos os homens da aldeia... foi tudo.

Só ficaram dois: Mawayaká, Noitú, e mais um companheiro dele. Eles já estavam com o cabelo comprido (como na reclusão), ficaram só os dois. Aí todo mundo foi na pescaria, só os homens.

 

Aí o pai do rapaz Mawayaká, cortou o fio do buriti e foi amarrando, para contar o tempo, 8 dias. Aí foram embora e cada dia, a mãe ia desamarrando um pedaço de burití, até 8 dias. Aí 8 dias Mawayaká, está esperando o pai... bateu 8 dias eles estavam esperando, achando que os homens iam voltar da pescaria.

 

Noitú Mawayaká mandou a mãe pegar lenha, preparar comida... pra alimentar o pessoal quando voltar.

 

Aí passaram esse dia que eles falaram. Não chegaram nesse dia. No outro dia, esperaram eles de novo, não chegaram... e vai indo, não voltaram.

 

Aí o polvilho foi acabando... acabou a comida. Ficaram um mês... aí Noitu Mawayaká ficou preocupado. Aí mandou o rapaz pra ver porque eles não estão voltando da pescaria... 

 

Esse rapaz que foi, levou beijú, mingau pra eles. Aí ele chegou lá na pescaria, só tinha pouca gente na pescaria. Diz que perguntou pra eles: “eu venho olhar vcs, que a mulherada está esperando vcs. Noitú está preocupado com vcs. Cadê os peixes?

 

 Só tinha pouca gente pescando e pouco peixe.

 

Eles responderam que ainda vão começar a pescar de novo... tão procurando peixe. Não acharam nada. Deram um pouco de peixe para o rapaz levar, em troca do Beijú.

 

Aí ele chegou na aldeia e foi direto pra casa do Noitú. Aí o Noitú perguntou o que eles estavam fazendo lá, que eles não voltaram. Aí o rapaz respondeu que tinha pouco peixe e pouca gente lá, que ele não sabia onde os outros foram...

 

Aí o Noitú falou: Por que eles não estão procurando peixe... o que é que eles estão fazendo? E o rapaz não soube responder... 

 

Aí esperaram eles mais uma semana.

 

Aí as mulheres juntaram no centro da aldeia e pensaram o que elas iam fazer. Porque os maridos não voltaram.

 

Aí a cantora respondeu: vamos cantar, vamos inventar Yamuricumã, vamos levar Noitú pra quando eles voltarem não encontrarem ninguém mais. Não vamos esperar mais... Vamos embora, vamos deixar eles, ela falou.

 

Aí no outro dia de manhã começaram a se preparar... se pintaram... aí começaram a juntar os cocares dos maridos (Kiarruai), colar de caramujo do pescoço (Morapeí) e Arawirí, o bracelete de pena de arara e os brincos de penas de tucano para pendurar nas costas. Ficaram com raiva porque eles não voltaram com os peixes e pegaram tudo dos maridos e se enfeitaram, com isso aí. Camorerré (brincos) viraram Copepai, os brincos amarrados nas costas com miçangas. Se enfeitaram todas e começaram a cantar e a dançar.

 

Começaram a cantar e dançar até a noite (9h) e depois entraram em casa.

 

Quando amanheceu acordaram e cantaram e dançaram à tarde... e assim por diante todos os dias. Não cuidaram mais da casa e nem dos filhos homens. Só das filhas mulheres.

 

Dançaram até a meia noite.

 

Aí Noitú começou a brigar com a mãe... porque elas não estão terminando logo de dançar.

 

Porque foi a mãe do Noitú que começou, ela que manda na festa.

 

Aí no outro dia começaram à tarde, 6h.

 

Aí só ficaram dançando. Começaram às 6h da tarde até amanhecer. Aí colocaram a pintura de urucum, aquela que cheira forte, urucuiú...

Urucum quando a mulherada fica suada...entra nos olhos e arde. Aí começaram a ficar doidas e nem se alimentaram mais... só dançando. Nem entraram mais na casa e nem pensaram na família, só dançando.

 

Aí quando deu 7h Noitú chamou o rapaz (aquele que foi olhar) para chamar os pescadores de volta, porque as mães e as mulheres estavam todas doidas, não estão mais cuidando dos filhos e nem fazendo comida, e os meninos estão chorando de fome.

 

E elas não param de dançar... e cantar, direto.

 

Aí o rapaz foi avisar os homens, lá na pescaria.

 

E as mulheres já estão sabendo, já estão desconfiadas que Noitú vai mandar o rapaz chamar os maridos...

 

O rapaz saiu da casa do Noitú, as mulheres entraram na casa do Noitú pra buscar ele. O rapaz dormiu ainda na aldeia, nem foi ainda, por isso elas ficaram mais bravas ainda. E foram buscar Noitú e levaram ele para o centro da aldeia.

 

Aí pegaram um bicho. Tatywy (tatuü) (tatú grande, com unha grande e afiada) ... Mulherada que pegou esee Tatu grande pra cavar buraco fundo para elas fugirem dos maridos.

 

Cada dia mais as meninas ficaram mais doidas, deixaram os filhos recém nascidos no pilão, em casa, para dançar. Só de olhar para elas as mulheres já ficam doidas e saem pra dançar.  Aí levaram Noitú dançando... Ele vai andando na frente e elas vão dançando atrás, muito mulherada.

 

Aí Noitú cheirou a pintura de urucum das mulheres e ficou doido também.

 

Aí Tauú (Tatu canastra) começou a cavar o buraco para elas fugirem (8h da manhã do outro dia). O Tatuú começou a cavar até o fim da tarde... À tarde elas começaram a entrar no buraco, Noitú na frente, mulherada dançando atrás dele.

 

Dançando elas entraram no buraco... e sai e entra e sai e entra, até o buraco ficar muito fundo e entrar todo mundo, toda a mulherada.

 

Elas não pararam de dançar mais, de dia e de noite... até 3h da manhã.

 

3h da manhã saíram poucas... só 10 pessoas saíram do buraco. As outras já foram embora junto com Noitú.

 

Aí rapaz saiu 3h da manhã, não conseguiu dormir de preocupação e saiu pra avisar os homens na pescaria. O rapaz chegou 6h da manhã para avisar...

 

 Quando chegou no acampamento o rapaz sentiu cheiro de porco. Os pescadores estavam virando porcos... Chegou lá, os pescadores espalharam tudo, gritando como porcos, Já tinham virado porcos. Só tinha 3 pessoas que ainda eram humanos, só tinham dentes e nariz de porcos...

 

Aí esse rapaz começou a contar para eles que a mulherada está indo embora, fugindo pelo buraco, largando todos os filhos homens de vocês... Só estão levando as filhas mulheres.

 

Aí eles começaram a chorar, como porcos. Só 3 pessoas entenderam e foram pra aldeia. Mas já tinham pelo de porco... Estavam meio gente, meio porco. Aí o rapaz começou a brigar com eles na estrada, porque as mulheres já estão entrando tudo no buraco.

 

Aí eles chegaram na aldeia e o buraco já estava protegido.

 

Elas colocaram marimbondos grandes, morcegos grandes e espinhos grandes...  para eles não passarem, para eles não conseguirem ir atrás delas.

 

E a mulherada já tinha ido embora.

 

Por isso antigamente nós não comíamos carne de porco, porque era como carne de gente, carne dos maridos que viraram porcos. Kamayurá não come porco, nem anta...

 

Aí o rapaz chegou com os 3 meio-porcos e meio-gente e não encontrou mais ninguém. Aí ele começou a chorar...

 

Aí a mulherada saiu do outro lado, no limite Arawyty (no limite)...

 

Lá que elas descansaram um pouco, foram banhar e depois pintaram de novo. Lá diz que onde elas banharam, ninguém pode mexer lá, nem tomar água, nem pegar folha... porque contamina tudo com perfume forte da pintura, urucuiú...

 

Depois começaram a comer e se alimentar e começaram a pendurar feitiço para ninguém ir atrás delas...

 

Aí começaram a caminhar de novo. O Tatuú começou a cavar de novo e elas continuaram a marcha, sempre por baixo da terra para ninguém olhar e ir atrás delas... Sempre caminhando e dançando e cantando, direto, diz que não cansam nunca. Ficaram doidas...

 

Aí saíram de novo do buraco lá na aldeia do Pacairí, aonde as Yamuricumã moravam.... primeiro foi a aldeia das Yamuricumã, antigamente, agora o Povo Bacairí está morando lá. Essa é a origem da festa das Yamuricumã.

 

Lá que elas saíram do buraco e lá que elas vão morar. Na aldeia das Yamuricumã.

 

Elas chegaram lá assim (braço levantado), uma hora. Descansaram um pouco, pararam um pouco de cantar. Aí no outro dia elas se juntaram para se reunir pra fazer casa. Mawayaká, era o único homem.

 

Aí começaram a procurar madeira para fazer casa. Levaram só dois dias para fazer casa. Uma casa grande para muitas mulheres...

 

Aí ficou pronto. Casa.

 

Elas não tinham rede, elas penduravam que nem morcego para dormir. Ninguém dormia no chão nem tinha rede. Só penduradas que nem morcego. Mawayaká, também. Noitú.

 

No outro dia acordaram. Elas começam a pescar elas mesmas. Noitú que fazia as flechas e arcos para elas pescarem. Umas pescam, outras caçam, outras fazem roça. Eram muitas mulheres... são a origem das Yamuricumã.

 

Noitú não fazia nada. Era como um chefe. Grande marido, Noitú. Tinha muitas mulheres. Ele engravidava as mulheres dele, porque ele tinha muitas mulheres.

 

Nascia menina, pegavam. Nascia menino, enterravam.

 

Foi indo assim... Muitos e muitos anos.

Noitú ficou velhinho. Mãe do Noitú ficou velhinha, velhinha, não andava mais (na época não tinha doença)

 

Aí elas colocavam as mulheres velhinhas pra fora, atrás da casa. A pele velha saí tudo, elas trocavam de pele e de manhã já estão novinhas de novo. Noitú também.

 

A mãe do noitú virou bem moça, bonita. Todas as mulheres que ficam velhas, trocam de pele, igual cobra. Aquelas que entraram no buraco, nunca morrem, só trocam de pele.

 

Noitú também, quando ficou velhinho, trocou de pele e ficou novo, de novo. Virou rapaz, de novo.

 

Com o passar do tempo, os brancos, europeus, vão se aproximando.

 

Diz que elas nem gostavam de homem... só do Noitú, que era grande marido.

 

Os brancos entravam na casa e viam elas penduradas. Só as velhas que namoravam com os brancos, quando troca de pele de novo, não gosta mais... porque as velhas não conseguiam pendurar mais, ficavam no chão. E os brancos começaram a matar elas de tanto namorar. Eles estupravam elas... os europeus, eles, os brancos de fora, matavam elas com arma de fogo, quando elas não queriam namorar...

 

As Yamuricumã tinham um peito diferente do outro. O peito direito era pequeno, porque elas usavam flecha e arco desse lado. E as flautas Jacuí...também do lado direito.

 

Aí ninguém cuidou mais do Noitú e ele morreu. Por causa dos brancos, elas não conseguiram cuidar mais e ele morreu.

 

Umas casaram com brancos, outras fugiram e outras mataram... E assim por diante. Até que as Yamuricumã foram acabando...

 

Hoje, elas morreram tudo. Ninguém ficou. Todo mundo...

 

Mas hoje em dia, ainda tem a festa das Yamuricumã...

As músicas continuam, Jacuí também continua, mas com os homens.

 

Só tinha a casa e os brancos queimaram a casa. Não sobrou nada... só as músicas e o nome Yamuricumã. E a história da origem da festa das Yamuricumã.

 

E as músicas?

 

Aquele menino que ficou, que ensinou uma menina que nasceu... recém nascida. E ela foi cantando e ensinando pras outras e assim por diante...

 

Existe também a Yamuricumã grande, que voa como coruja... Como Mamaê, um espírito.

 

Tem espírito de uma mulher que ainda existe.  Nhaurucunhã... aquelas mulheres que fugiram pro mato. Voz igual do trovão. Não é mais gente, só espírito.

 

Acabou. Pronto.

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CRIAÇÃO

Este projeto foi contemplado pela 13a. Edição do Prêmio Zé Renato de Teatro para a Cidade de São Paulo - Secretaria Municipal de Cultura

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